Avaliação Pré-operatória: Segurança Cirúrgica Começa no Consultório

Consulta médica para avaliação pré-operatória com foco em segurança cirúrgica.

A avaliação pré-operatória tem como objetivo principal estratificar riscos e otimizar condições clínicas do paciente antes de um procedimento cirúrgico. Quando bem conduzida, contribui para a redução de complicações perioperatórias, melhora a tomada de decisão e, principalmente, salva vidas.

Objetivos da Avaliação Pré-operatória

  • Estimar o risco cardiovascular perioperatório
  • Identificar doenças clínicas não diagnosticadas ou mal controladas
  • Ajustar medicações em uso
  • Propor estratégias de otimização clínica, quando necessário
  • Determinar a necessidade de exames complementares

Etapas da Avaliação

  1. Anamnese detalhada
    • Doenças cardiovasculares prévias (IAM, ICC, arritmias, valvopatias)
    • Fatores de risco (HAS, DM, dislipidemia, tabagismo)
    • Capacidade funcional (em METs – equivalentes metabólicos)
    • História de sangramentos, tromboses, alergias, anestesias prévias
  2. Classificação do risco da cirurgia
    • Baixo risco: procedimentos ambulatoriais, oftalmológicos, dermatológicos
    • Intermediário: cirurgias ortopédicas, urológicas, ginecológicas
    • Alto risco: cirurgias vasculares, torácicas, abdominais extensas
  3. Avaliação da capacidade funcional
    • >4 METs: subir dois lances de escada, caminhar em ritmo acelerado → bom prognóstico
    • <4 METs ou desconhecida: pode exigir investigação adicional
  4. Estratificação do risco cardiovascular
    • Utilização de escores validados como o Revised Cardiac Risk Index (RCRI)
      • Inclui variáveis como: ICC, DAC, DRC, DM insulino-dependente, cirurgia de alto risco

Exames Complementares: Apenas Quando Indicado

  • ECG de repouso: indicado para pacientes com DAC conhecida, arritmias, ou >65 anos em cirurgias intermediárias/maiores
  • Ecocardiograma: se houver suspeita de disfunção ventricular ou valvopatia significativa sem avaliação recente
  • Teste ergométrico ou cintilografia miocárdica: apenas se houver dúvida sobre capacidade funcional e o resultado influenciar na conduta cirúrgica
  • Coronariografia: raramente indicada no pré-operatório, salvo se houver sintomas ou testes não invasivos fortemente sugestivos de isquemia

Manejo de Medicações

  • Betabloqueadores: manter se já em uso crônico. Não iniciar de forma abrupta antes da cirurgia
  • IECA/BRA: controverso – muitos serviços suspendem 24h antes de cirurgia de médio/alto risco
  • Antiplaquetários: avaliar risco x benefício com o cirurgião e o cardiologista – manter em stents recentes (<1 ano), mas pode ser suspenso em cirurgias de alto risco hemorrágico
  • Anticoagulantes: decidir sobre suspensão e uso de ponte com heparina conforme o risco tromboembólico (ex: FA com CHA₂DS₂-VASc alto, prótese valvar mecânica)

Otimização Prévia à Cirurgia

  • Controle rigoroso de pressão arterial e glicemia
  • Suspensão do tabagismo e aconselhamento para cessação
  • Avaliação e tratamento de anemia, especialmente se prevista perda sanguínea importante
  • Encaminhamento para risco cirúrgico formal, com parecer cardiológico quando indicado

Conclusão

A avaliação pré-operatória é muito mais do que um “liberado para cirurgia”. Ela representa uma oportunidade valiosa de identificar riscos, prevenir eventos cardiovasculares e garantir que o paciente enfrente o procedimento da forma mais segura possível. Cada conduta deve ser individualizada, baseada na cirurgia, no estado clínico do paciente e na urgência do procedimento.

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